Contos de Ilíria

Há quase 30 anos, comecei a criar um cenário de fantasia medieval chamado Iliria como palco para histórias e aventuras de RPG. Durante todo esse tempo, a descrição dos personagens de Iliria esteve sempre viva na minha imaginação e na imaginação dos que participaram das histórias comigo. A vontade de representar visualmente esses personagens sempre existiu e, algumas vezes, encontrávamos imagens que representavam de maneira bem próxima o que esperávamos desses personagens.

Recentemente, resolvi experimentar as IAs de geração de imagens e os resultados foram surpreendentes. Quanto mais me aprofundo nas lógicas e comandos, mais precisas ficam as imagens e mais personagens são projetados da minha imaginação e da imaginação de todos que já visitaram Iliria através desses avatares.
Contudo, toda vez que me deslumbro com as imagens geradas, também sinto um fundo de pesar no meu coração.

Há pouco mais de um mês, perdi um grande amigo e um dos meus melhores e mais antigos aventureiros de Iliria. Juntos, criamos personagens sensacionais e muitos deles foram os primeiros que quis ver em forma de ilustração. Então, toda vez que vejo um desses personagens representados, não consigo evitar a sensação amarga de que se ele tivesse ficado por aqui só mais um pouco, teria se deslumbrado ainda mais do que eu com o resultado, da mesma forma como ele vibrava com as simples descrições dos mesmos.

Por isso, resolvi compartilhar um pouco dessas histórias e vou postar aqui alguns desses resultados com uma breve história do personagem. Começando por este, o grande Maevion. Um personagem cuja totalidade da sua misteriosa origem nem mesmo o seu jogador ficou sabendo antes de partir.

Certa noite, enquanto observava as estrelas através de seu telescópio a bordo de seu dirigível, o mestre Naraki se espantou ao ver o que parecia ser um cometa. Entretanto, Nakari era um profundo conhecedor dos céus e sabia que não havia nenhum cometa cuja trajetória passasse por ali naquele momento. Maior ainda foi seu espanto quando percebeu que a trajetória do objeto o levava diretamente para a Cordilheira da Morte, no coração do continente Iliriano. Imediatamente, ordenou à tripulação um novo curso e, após alguns dias, chegaram ao local do impacto. Seja lá o que fosse que tivesse caído ali, o objeto havia perfurado a cordilheira e mergulhado fundo nos Sogare Iengar, os abismos eternos. Com a ajuda dos demais Iarok, o grupo de notáveis que o acompanhava, Nakari conseguiu chegar até esse estranho ser ainda confuso por conta da queda. Ele tinha orelhas de elfo e um par de asas enormes. Poderíamos presumir, portanto que se tratasse de um elfo Fanari, mas sua barba farta evidenciava que não, ele não era um elfo.

Curioso, Nakari se aproximou da criatura e descobriu que ela não sabia quem era ou de onde veio, mas que, assim como os elementais que nascem fluentes na língua dos deuses, o ser também sabia o Edo Midai. Nakari então perguntou se ele talvez não seria um “maevi”, um dos pastores de estrelas (os cometas de Iliria), mas a criatura prontamente se levantou dizendo: “Não, eu sou Maevion” (O grande pastor de estrelas).

Os segredos desse personagem nunca foram totalmente revelados para o seu jogador, o saudoso João Cícero, mas as respostas sempre estiveram aqui esperando pela continuação da história que a morte, e a vida antes dela, acabaram evitando que acontecesse. Mas quem sabe um dia alguém há de ouvir quem era realmente Maevion e, pelos deuses, como podia um elfo ter tanta barba?