No reino de Balmus vivia um senhor anão, chamado Giran. Giran era um mestre Joalheiro de grande renome e prestigio, todos buscavam Giran, desejando que o mesmo lhe fizesse ornamentos e joias, até mesmo coroas eram feitas por Giran, e muitos reis e nobres tinham grande apreço por seu trabalho, porém Giran possuía uma peculiaridade, sempre que aceitava um trabalho pedia um pouco mais de material e por isso o preço de seu trabalho se tornava menor que o de muitos artesões, mas nenhum era capaz de competir com Giran e suas joias se tornaram de enorme valia.
Depois de muitas décadas um boato se espalhou, um sussurro dizia que Giran possuía um tesouro, feito com os restos e retalhos de todo o material com que já trabalhará, esse boato se propagou de tal forma que logo muitos ladrões, assassinos e mercenários passaram a visitar aquela região, todos em busca do famoso tesouro, e por quase 1 ano, Giran foi vítima de inúmeras tentativas de roubo, até que por fim, não suportando mais aquele infortúnio, decidiu que iria desaparecer e assim o fez.
Num dia trabalhou normalmente e no outro já havia partido, muitas especulações surgiram sobre seu sumiço, a maior parte falava sobre sua suposta morte, e assim seguiu por um pouco mais de 5 anos.
Todavia, na manhã de um dia qualquer, todos puderam ver, Giran e sua loja funcionando como se nada tivesse acontecido, e muitos se aproximaram espantados para ver seu retorno, alguns até mesmo dizendo se tratar de um fantasma, porém ali estava Giran, O mestre anão, trabalhando como nunca, e muitos aos poucos perderam o interesse e partiram, mas alguns se mantiveram tempo o suficiente para notar que Giran não estava moldando ornamentos e sim armas.
Armas estas de todos os tipos e espécies e isso atiçou ainda mais o povo que não parava de falar sobre Giran, e seu nome era sussurrado e viajava, viajou tanto que chegou aos ouvidos do Rei de Turin, que a muito foi cliente e amigo de Giran e agora se encontrava com problemas financeiros.
Ao ouvir que Giran havia retornado se lembrou imediatamente da lenda de seu tesouro e armou uma maneira de tomá-lo e assim mandou chamar Giran.
Após alguns dias Giran foi levado à frente do rei e foi tratado de forma descortês pelo mesmo, pois o rei o acusava de agir de má fé e ter trapaceado todos os seus clientes, para que pudesse criar seu lendário tesouro.
Giran apenas calado, ouvia o devaneio do rei, que por fim deixou claro sua real intenção, desejava que Giran lhe entregasse o tesouro afim de pagar sua dívida moral com todos os seus antigos clientes, Giran apenas assentiu com a cabeça, para surpresa de todos, inclusive do rei, que mesmo aturdido com a facilidade com que Giran aceitou o fato, continuou a sua indagação e pediu que Giran lhe dissesse onde estava escondido o tal tesouro.
Giran se aproximou de uma mesa e lá puxou um mapa da região e com rapidez apontou o pico da montanha de Candar em Nemeia, e falou que no cume da montanha, haveria uma entrada e lá encontraria o tesouro.
O rei mais que depressa preparou um grupo de oficiais e os mandou para a montanha, afim de resgatar o tesouro.
A viajem durou 2 dias e mais meio dia de escalada até chegar na bendita entrada, os oficiais ficaram atônitos ao ver que a entrada parecia ter sido escavada a mão, até por que a montanha era conhecida por todos, por ser formada de ferro e rocha pura.
Dois dos oficiais adentraram a estranha caverna e após alguns passos se depararam com uma bifurcação e depois dela mais outra, e depois outra, e outra e assim por diante, ao perceberem se tratar de um labirinto, voltaram mais que depressa a fim de não se perderem, os oficiais se reuniram e voltaram até o rei para relatar o que havia ocorrido e o rei mandou novamente chamar Giran.
Após alguns dias, lá estava Giran e o rei se mostrou incrivelmente irritado e cuspia ofensas para ele, o mesmo se mantinha calmo, até que por fim o rei questionou:
– Por que não me falou que existia um labirinto!?!
E calmamente Giran respondeu:
– Meu caro rei, o senhor nunca me perguntou o que havia naquela montanha, além do tesouro.
Como era de se esperar o rei ficou ainda mais irritado, irritado o suficiente para demonstrar isso em suas feições e num momento de extremo autocontrole o rei voltou-se novamente para Giran e falou que o mesmo deveria acompanhar uma nova equipe até a montanha e lá revelar o caminho de seu labirinto, porém novamente, com o ar tranquilo, Giran indagou:
– Mas meu rei, já sou há muito velho, não sou mais capaz de suportar semelhante empreitada…
Nesse instante os olhos do rei faiscaram e sua mão escorregou diretamente para junto do punho de sua espada, e Giran completou sua frase.
– …porém, possuo o mapa do labirinto e com muito prazer entregarei a vossa excelência.
O rei restaurou o semblante e falou que se aquele fosse mais um de seus truques, ele ficaria preso no calabouço pelo resto da vida. Giran apenas consentiu com a cabeça e assim o rei ordenou que 7 de seus melhores exploradores, fossem até o labirinto resgatar o tesouro, e assim aconteceu.
Os sete exploradores foram até o labirinto, e lá chegando, decidiram que dois deles ficariam do lado de fora por segurança, e os outros cinco adentraram o labirinto, porém um bom tempo se passou e nada dos cinco regressarem.
Os dois que estavam de fora ficavam tentando ouvir sons do labirinto, mas nenhum som era emitido, na verdade nem mesmo o som do vento parecia escapar daquele local, e assim esperaram por quase 8 dias, até que por fim deram os cincos como mortos e voltaram até o rei.
O rei numa ira tremenda mandou que trouxessem Giran, que aguardava no castelo, e o ofendeu novamente e indagou por que brincava tanto com sua paciência, e o velho Giran apenas falou:
– Não posso ser culpado pelas mudanças no labirinto, afinal a montanha com toda certeza é a culpada.
O rei não compreendeu aquelas palavras e ordenou que ele se explicasse, e o mesmo apenas falou que as montanhas possuem vida, e que quando concluiu o labirinto, ele se tornou parte da montanha e assim como todos sabem, as montanhas não gostam de aventureiros.
O rei perdeu finalmente a paciência e condenou Giran a morrer em seus calabouços, e o pobre Giran foi preso, e ali ficou por muitos anos.
Enquanto isso o rei de tempos em tempos mandava um novo grupo de exploradores, mas o resultado era sempre o mesmo, pois ninguém que adentrava o labirinto retornava, e assim o tempo passou e os boatos do labirinto se espalharam pelo povo e de vez em quando um pequeno grupo se aventurava em busca do famoso tesouro, mas ninguém foi bem sucedido e apenas um homem retornou do mesmo, porém morreu logo em seguida, ainda na entrada do labirinto, alucinado e gritando palavras que poucos foram capazes de compreender, entre as palavras decifradas foram ouvidas as seguintes frases:
– …as paredes sussurravam…, …o labirinto se movia…
Quase duas décadas se passaram e o rei se rendeu ao manto da morte e com isso seu primogênito acendeu ao trono, e seu primeiro decreto como rei foi que Giran fosse libertado e que o mesmo tivesse todo tipo de honraria naquele reino enquanto restasse vida em seu velho corpo.Mas como se sabe, um anão vive por muito tempo e por isso até nos dias de hoje e possível ver o velho anão forjando suas armas, muitos ainda pedem que Giran desenhe alguma joia, porém o mesmo nunca mais fez um ornamento.
Enquanto isso os boatos sobre o labirinto e seu tesouro se tornaram lendas, que por fim viraram essa história que acabo de lhes contar.